Este é um relato pessoal, uma confissão, algo que há muito tempo eu precisava exorcizar, mas que nunca tive coragem de contar.
Decidi, finalmente, colocar as palavras no papel e dar voz a sentimentos que tenho guardado durante tanto tempo.
No entanto, para proteger a minha identidade e daqueles que de alguma forma se envolvem nesta história, optei por alterar os nomes e detalhes específicos.
O que partilho aqui é genuíno e real, mas a minha intenção não é ferir ou expor ninguém além de mim mesma.
A verdade é que este é um grito silencioso, uma reflexão sobre as escolhas que fiz e as que ainda preciso fazer. Não espero compreensão nem perdão, apenas a liberdade que vem com a honestidade.
Cada palavra que escrevo é um pedaço de mim, uma parte da minha jornada que, agora, sinto necessidade de partilhar. Mas, ao mesmo tempo, sei que é uma história que muitos podem reconhecer, e por isso, escolhi manter o anonimato.
Esta confissão não é sobre julgamento, é apenas sobre dar sentido ao que vivi e, de certa forma, libertar-me das correntes que ainda me prendem ao passado.
Eis como tudo aconteceu
Senti o estômago revirar assim que estacionei o carro. Nervosismo e excitação misturavam-se numa luta que me deixava em frangalhos.
Fechei os olhos por um instante, inspirando profundamente, numa tentativa desesperada de recuperar o controlo.
Tudo em mim gritava que não devia estar ali, que era um erro. Mas, ao mesmo tempo, algo mais forte me empurrava para continuar.
“Estás a fazer isto pela tua família,” pensei, tentando convencer-me.
No entanto, a verdade era muito mais crua. Não era pela família, era por mim.
Pelo desejo, pelo prazer. Era pela necessidade de fugir à rotina sufocante que me consumia todos os dias.
Olhei para o retrovisor e ajeitei o cabelo. O reflexo devolveu-me a imagem de uma mulher confiante, bonita, que ainda sabia como cuidar de si.
O vestido que tinha escolhido moldava as curvas que o tempo não apagou e o decote realçava os seios, um detalhe estrategicamente calculado.
Sorri, uma mistura de orgulho e culpa, enquanto abria a porta do carro.
O edifício estava iluminado, discreto e elegante, localizado numa zona tranquila da cidade.
Caminhei até à entrada, com os saltos dos meus sapatos a ecoar na calçada.
O frio da noite provocava arrepios na minha pele, mas a adrenalina fazia-me ignorá-lo.
Entrei no lobby, e os meus passos reverberaram nas paredes de mármore. Atrás do balcão, um jovem rececionista olhou-me com curiosidade, deixando que o olhar permanecesse um pouco mais do que o profissionalismo permitiria. Não o culpo.
O vestido ajustado e o meu andar determinado pareciam ter captado toda a sua atenção.
Boa noite. Em que posso ajudá-la? — perguntou, com a voz educada, mas quase trêmula.
Boa noite. Tenho uma reserva no nome de Ricardo Costa.
Ele confirmou a reserva no computador e entregou-me o cartão magnético do quarto com um pequeno sorriso.
Sexto andar, quarto 607.
Agradeci com um leve aceno de cabeça e caminhei até ao elevador, tentando controlar o ritmo dos meus passos.
A sensação do olhar dele a queimar-me as costas era inegável, uma mistura de curiosidade e desejo que eu conseguia perceber sem precisar virar-me.
Mantive a compostura, mantendo os ombros erguidos e o olhar fixo à frente, embora o coração estivesse a bater mais depressa do que deveria.
Assim que as portas metálicas do elevador se fecharam atrás de mim, toda a tensão acumulada pareceu explodir de uma só vez.
Encostei-me à parede fria e deixei escapar um suspiro longo, quase a tremer.
Sentia o calor subir-me ao rosto, e as palmas das mãos estavam ligeiramente húmidas. O silêncio no interior do elevador contrastava com o turbilhão de pensamentos na minha cabeça.
Fechei os olhos por um instante, tentando recuperar o controlo antes que as portas voltassem a abrir.
A tensão acumulada começava a cobrar o seu preço
Peguei no telemóvel, ativei o modo de voo e guardei-o na bolsa. Tirei também a aliança do dedo, olhando para o espaço vazio que ela deixava.
Era estranho ver a minha mão assim, despida, como se aquele gesto significasse algo muito maior.
O corredor do sexto andar estava silencioso, e os meus passos eram abafados pela alcatifa. Quando cheguei à porta 607, fiquei parada por um momento.
As minhas mãos tremiam ligeiramente quando bati à porta. Não precisei esperar muito. O Ricardo abriu, e os seus olhos brilharam de imediato.
O Ricardo era o meu chefe, mas essa palavra parecia pouco para descrever o impacto que ele tinha na minha vida. Era mais do que um superior hierárquico.
Ele era a força gravitacional do escritório, um homem que comandava a atenção e o respeito de todos sem nunca precisar de levantar a voz.
Carismático, direto e sempre impecavelmente vestido, o Ricardo exalava poder de uma forma que era impossível ignorar.
Desde o início, houve algo entre nós que ia além do profissional. Um olhar mais demorado numa reunião, um toque breve e aparentemente inocente ao passar pelos corredores.
Pequenos gestos que, com o tempo, se transformaram numa tensão quase sufocante.
Apesar da sua posição como chefe, o Ricardo sempre soube como me fazer sentir como uma igual quando estávamos sozinhos.
Ele conhecia os meus pontos fracos e parecia saber exatamente quando aparecer, seja para me elogiar subtilmente ou para me lançar um olhar que deixava um rasto de pensamentos proibidos na minha cabeça.
Era um jogo perigoso, mas eu não conseguia evitar sentir-me atraída por ele.
Ali, de pé à porta do quarto de hotel, percebi que a barreira entre chefe e subordinada já não existia.
Naquele momento, ele não era o meu superior. Era apenas o Ricardo, o homem que me fazia esquecer quem eu era e que me dava coragem para ser quem eu queria ser.
Sofia… Estás incrível. Meu Deus, que mulher linda. — Ele parou, observando-me como se quisesse memorizar cada detalhe. — Espero que não tenhas tido problemas em sair de casa.
Nenhum. Disse que ia jantar com amigas.
Entrei no quarto, e o ambiente era quente e acolhedor. Sobre uma mesa, uma garrafa de vinho tinto e duas taças esperavam.
A luz suave criava sombras agradáveis nas paredes, tornando o espaço ainda mais íntimo.
Achei que um bom vinho seria o início perfeito.
O Ricardo sorriu e começou a abrir a garrafa, mas interrompi-o, pousando a mão sobre a dele.
Esquece o vinho — murmurei, puxando-o para mim. — Agora quero outra coisa.
Aproximei os meus lábios dos dele e beijei-o, sem hesitar. Foi um beijo intenso, carregado de desejo.
O Ricardo envolveu-me pela cintura e puxou-me para si, levantando-me com facilidade e pousando-me sobre a mesa de mármore.
A sua presença era avassaladora. Os dedos dele deslizaram lentamente até à barra do meu vestido, afastando-o com uma suavidade que contrastava com a intensidade do olhar que me lançava.
Cada movimento parecia calculado, mas havia uma urgência subtil em cada gesto.
O tempo parecia suspenso, como se o mundo à nossa volta tivesse desaparecido, e fôssemos apenas nós dois, perdidos neste momento.
Quando ele se aproximou ainda mais, senti o calor do seu corpo junto ao meu.
Os seus lábios tocaram delicadamente a minha pele, iniciando um percurso lento e fascinante. Cada toque, cada beijo, fazia-me estremecer, como se estivesse a redescobrir uma parte de mim mesma que há muito estava esquecida.
A sensação era quase elétrica, um formigueiro que percorria a minha pele, subindo, descendo, acordando-me para um mundo de sensações que eu mal sabia que existia.
Os meus olhos fecharam-se por um momento, permitindo-me concentrar apenas no toque dele, na sua presença envolvente.
A sua respiração quente contra o meu pescoço, o peso da sua mão na minha cintura, eram como uma música silenciosa que se tocava entre nós.
Não era só a pele que se tocava, era algo mais profundo, um entendimento sem palavras, uma conexão que crescia a cada segundo.
Quando ele se afastou ligeiramente, o olhar que trocámos foi carregado de uma promessa silenciosa, de algo mais intenso que ainda estava por vir.
Não era só o desejo que nos envolvia, mas algo muito mais forte, como se estivéssemos a partilhar uma intimidade sem pressas, sem necessidade de explicações.
Cada movimento, cada gesto, parecia ser uma descoberta, como se os nossos corpos tivessem memórias de algo mais, de algo que só agora começávamos a explorar.
Não havia espaço para dúvidas ou arrependimentos
Aquela noite foi uma explosão de sensações. Entre a mesa, a cama e o chão, entregámo-nos completamente um ao outro, numa dança de corpos suados e respirações ofegantes. Um sexo fantástico que me fez ter múltiplos orgasmos e deixar a cama toda molhda.
O Ricardo era tudo o que eu imaginava e mais. Intenso, seguro, quase selvagem.
Horas mais tarde, enquanto vestíamos as roupas espalhadas pelo quarto, trocámos um sorriso cúmplice. Ele olhou-me como se estivesse a guardar aquele momento na memória.
Sofia, tu és uma verdadeira surpresa. Nunca imaginei que pudesses ser tão… incrível.
Não respondi. Apenas sorri, ajeitando o cabelo no espelho e verificando se o vestido estava no lugar certo.
Lá fora, a realidade esperava-me, mas por agora, sentia-me outra mulher.
No elevador, olhei para o reflexo e mal reconheci aquela pessoa. Os meus olhos brilhavam de uma forma que não via há anos.
Apesar da culpa que sabia que viria depois, naquele instante, senti-me viva. Era como se, por um momento, tudo tivesse se alinhado e eu estivesse a viver para mim, sem amarras, sem pressões.
Quando entrei no carro, encostei a testa ao volante e deixei escapar um suspiro profundo.
O peso da noite parecia carregar-se nos meus ombros, mas, ao mesmo tempo, havia algo de libertador.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, misturando-se com o sorriso que, teimoso, não conseguia conter.
Não era apenas a emoção do momento, mas uma sensação indescritível de ter dado um passo para a frente, de ter encontrado algo dentro de mim que há muito estava perdido.
A vida continuava, como sempre faz, indiferente às escolhas que tomamos. Mas naquela noite, redescobri algo que pensava ter perdido para sempre — a capacidade de me sentir inteira, de ser eu mesma sem culpa ou obrigações para com os outros.
Era como se o mundo tivesse parado por breves segundos, permitindo-me saborear a liberdade de uma decisão que estava apenas a começar.
Eu sabia. Sabia da traição do meu marido, que acontecera há meses, com uma amiga minha. O peso daquela descoberta nunca me deixou, mas também não me paralisou.
A dor foi algo que aceitei, algo que aprendi a carregar. Mas esta noite não era uma vingança, não era um grito de revolta. Não.
Esta noite era apenas o ponto final de algo que já estava acabado muito antes de eu chegar até aqui. A uma semana do divórcio, percebi que, na verdade, já não existia casamento.
Estávamos apenas a cumprir um formalismo, um trâmite que, em breve, seria resolvido. Mas naquela noite, sem esperar por nada, encontrei o meu próprio caminho para a liberdade.
O sorriso que teimava em aparecer não era sobre o que tinha acontecido, mas sobre o que estava prestes a acontecer. O fim era apenas o começo de algo novo.